15 de jan. de 2011

O reino dos que se destacam em nada


Boquiaberta e perplexa estava àquela multidão. Como era difícil compreender um fato tão bizarro. Um reino formado por desajustados, destrambelhados, losers e imperfeitos, sim, pessoas tão indignas, mas conscientes até o último fio de cabelo da sua mediocridade. Ali, eles dançavam livremente, sem se importar com a performance, eles eram eles mesmos, o tempo todo, e estranhamente eram aceitos, mesmo com suas falhas e limitações expostas para quem quisesse ver e rever. Do lado de fora a multidão fazia questão de se gabar dos seus feitos, dos seus diplomas e esperteza, eles apontavam e riam daqueles loucos, tão livres! Na verdade aqueles risos escondiam a revolta dos que não foram aceitos. Toda aquela capacidade, o seu desempenho e perfeccionismo na moral e ética não foi capaz de fazê-los entrar. Era monstruoso ser rejeitado, sabendo que cada rito e costume foi cumprido religiosamente, por aqueles que ficaram do lado de fora. Era um assombro saber que o dono daquele lugar não usou um critério “justo” de classificação. Ele não se importou com as habilidades, nem com o desempenho admirável daquelas pessoas, simplesmente as aceitou sem critério algum. Ele deixou entrar todos aqueles que conscientes de sua total falta de mérito decidiram viver, viver por um propósito que vai além de toda a sua breviedade temporal, falta de habilidade e inconsistência na sua atuação religiosa. Era espantoso o cavalheirismo daquele senhor, que acolheu em seu lar todos aqueles perdedores, com a única certeza de que agora eles viveriam não por suas próprias forças, mas sim pela graciosidade daquele Rei. Aquele sim era um reino singular, diferente de qualquer outro, um lugar tão inclusivo, onde era necessário absolutamente nada para entrar. Contudo aqueles que não conseguiram se despojar de toda sua habilidade e perfeição própria não conseguiram dar um passo em direção aquele reino. Para eles era embaraçoso saber que o cidadão mais vil teria ali, um lugar a mesa. Eles não aceitaram a única regra existente: libertar-se da escravidão do desempenho e viver pelo favor imerecido daquele senhor. 


[Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são. Para que nenhuma carne se glorie perante ele.
1 Coríntios 1.27-29]

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