8 de fev. de 2011

apenas um até logo...

Foram exatos três anos, e cada segundo, hora, dia e ano foi pouco, o mínimo, o suficiente. Pouco para tantas alegrias, carinho, amor, tantos momentos que ficaram para sempre em minha memória, em meu coração. Contudo foi o mínimo para demonstrar o quanto algumas pessoas são especiais, tão surreais! Será que elas são de carne e osso? Pois seu amor ultrapassa a distância momentânea e as diferenças, e vai além da possibilidade humana, alcançando a dimensão espiritual com seus joelhos dobrados e orações fervorosas que sobem até o céu e descem em forma de resposta, de benção. Mas foi o suficiente para criar laços que jamais serão desfeitos, afinal de contas o cordão de várias dobras nunca se quebrará. Com toda certeza, foi mais do que suficiente para tantas vitórias, para encher a bagagem de sorrisos, cumplicidade, amor, amizade. E, hoje eu parto, e meu coração se reparte, pois fica um pedaço dos meus melhores sentimentos com cada pessoa que fez parte da minha vida nesse tempo de tão grande aprendizado. Confesso que meu coração chorou de saudades antecipadas, meus olhos também... Mas, hoje eu faço uma prece especial e levanto bem alto minhas mãos agradecendo a Deus por ter manifestado a Sua fidelidade e amor através da vida de cada um de vocês. Obrigado, meu Deus, por ter várias vezes enviado o Seu sorriso, abraço, consolo e até mesmo um puxão de orelha através dessas pessoas, tão singelas e especiais, essenciais. Eu deixo com vocês meu sorriso mais sincero, meu sentimento mais puro e verdadeiro, meu maior abraço, minha melhor história, minha melhor intenção, toda minha compreensão, e da minha amizade, a maior porção. Isso não é um adeus, é apenas um até logo.

27 de jan. de 2011

A velha regra do não tire os pés do chão


Essa tal de realidade, quem ela pensa que é? Por causa dela sempre me mandam ficar com os pés no chão, mas isso é inútil, já me acostumei a estar com os pés bem altos, quase sempre fora da gravidade. Talvez eu viva assim, comemorando com antecipação, por desejar tanto realizar meus sonhos, exatamente como planejei e da forma como sempre imaginei. Talvez, os outros sofram por eu ser assim tão confiante, por fazer minhas listas detalhadamente daquilo que almejo, até mesmo aquelas que incluem outras pessoas.  Não é que eu seja autossuficiente, pelo contrário, se tudo dependesse de mim, com toda a certeza, não andaria por aí contando os dias para os meus sonhos se realizarem. A minha parcela de mérito na concretização dos meus propósitos é bem singela, quase nada depende de mim: acreditar, somente acreditar, manter viva a esperança independente do tempo e das circunstâncias. Interessante é ver a cara de bobo daqueles que duvidaram da minha fé, e perceber o sorriso de orelha a orelha daqueles que ao me verem planejar tiveram medo de que me decepcionasse. Contudo, nenhuma delas supera a minha expressão, ora de quem está prestes a explodir de alegria, ora de quem está surpresa. Não é à toa a minha hiperatividade voluntária, pois é incrível ver como todas as minhas expectativas são superadas, como recebo sempre mais do que pedi ou pude um dia imaginar.  E, quando isso acontece, novamente faço e refaço minhas listas e jogo meus pés bem alto com o objetivo de alcançar o céu. Nesse momento acredito que nada pode me deter, nada pode impedir que meus sonhos saiam do papel direto para a realidade. Somente eu, se deixar de acreditar. Mas não farei isso, nem mesmo obrigada, pois bem sei que a minha fé é capaz de mover montanhas, é a certeza daquilo que não vejo, mas desejo, é a convicção daquilo que eu espero, anelo, daquilo que com os olhos, não os carnais, eu contemplo. E mesmo invisíveis para muitos, vejo meus sonhos nitidamente, os coloro dia a dia, até que eles se tornem tão reais de maneira que posso tocá-los, vivê-los, realizá-los. 

[Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a convicção dos fatos que não se vêem.
Hebreus 11.1]

15 de jan. de 2011

O reino dos que se destacam em nada


Boquiaberta e perplexa estava àquela multidão. Como era difícil compreender um fato tão bizarro. Um reino formado por desajustados, destrambelhados, losers e imperfeitos, sim, pessoas tão indignas, mas conscientes até o último fio de cabelo da sua mediocridade. Ali, eles dançavam livremente, sem se importar com a performance, eles eram eles mesmos, o tempo todo, e estranhamente eram aceitos, mesmo com suas falhas e limitações expostas para quem quisesse ver e rever. Do lado de fora a multidão fazia questão de se gabar dos seus feitos, dos seus diplomas e esperteza, eles apontavam e riam daqueles loucos, tão livres! Na verdade aqueles risos escondiam a revolta dos que não foram aceitos. Toda aquela capacidade, o seu desempenho e perfeccionismo na moral e ética não foi capaz de fazê-los entrar. Era monstruoso ser rejeitado, sabendo que cada rito e costume foi cumprido religiosamente, por aqueles que ficaram do lado de fora. Era um assombro saber que o dono daquele lugar não usou um critério “justo” de classificação. Ele não se importou com as habilidades, nem com o desempenho admirável daquelas pessoas, simplesmente as aceitou sem critério algum. Ele deixou entrar todos aqueles que conscientes de sua total falta de mérito decidiram viver, viver por um propósito que vai além de toda a sua breviedade temporal, falta de habilidade e inconsistência na sua atuação religiosa. Era espantoso o cavalheirismo daquele senhor, que acolheu em seu lar todos aqueles perdedores, com a única certeza de que agora eles viveriam não por suas próprias forças, mas sim pela graciosidade daquele Rei. Aquele sim era um reino singular, diferente de qualquer outro, um lugar tão inclusivo, onde era necessário absolutamente nada para entrar. Contudo aqueles que não conseguiram se despojar de toda sua habilidade e perfeição própria não conseguiram dar um passo em direção aquele reino. Para eles era embaraçoso saber que o cidadão mais vil teria ali, um lugar a mesa. Eles não aceitaram a única regra existente: libertar-se da escravidão do desempenho e viver pelo favor imerecido daquele senhor. 


[Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são. Para que nenhuma carne se glorie perante ele.
1 Coríntios 1.27-29]

o Senhor das fechaduras


Abaixada eu pegava as migalhas do chão. Aquilo não era nem de longe o suficiente, mas já havia me acostumado, estranhamente me contentava com as sobras. Aquele tempo todo vivendo de resto me impedia de desejar algo mais. Eu preferia não arriscar o pouco que tinha ao tentar e descobrir que eu realmente não merecia mais do que o mínimo. De tanto bater de porta em porta já conhecia exatamente o que cada uma delas iria me oferecer, mesmo sabendo que algumas me dariam o podre, estragado, eu aceitava, pois pra mim aquilo era um disfarce passageiro, por uma pequena fração de tempo aquilo iria me satisfazer. Dentro de mim, escondido e sufocado, estava meu desejo de me sentir completa. Desejava provar a mim mesma que merecia mais do que aquilo. Porém as tentativas frustradas fizeram minha esperança escorrer por entre os dedos e o meu sorriso se apagar. O que eu realmente queria é que uma daquelas portas ao se abrir me oferecesse algo a mais. A verdade é que todo aquele lixo do qual eu me entupia diariamente, ainda que me proporcionasse uma gota de alegria, estava me fazendo mal, eu estava doente. Estava faminta e vazia, a dor era tão grande que desejei morrer, queria que meu fôlego de vida fosse cortado naquele instante, pra mim não fazia mais sentido viver. Naquele momento de desespero alguém bateu à porta, mas eu não conseguia ir até lá, estava debilitada, as consequências das minhas escolhas me fizeram chegar àquele estado. Conforme minhas forças se esgotavam, batiam mais forte na porta, e mais forte, e a frequência das batidas aumentava. Então ouvi uma voz que chamava meu nome. Fiquei com medo, assustada, mas decidi ir até lá, ver quem batia daquele jeito, quem me chamava com tanta pressa. Completamente sem forças, me arrastei até a porta e ao abri-lá me deparei com alguém que trazia água e alimento, ele entrou e comeu comigo. Senti  vergonha da minha situação, mas ele me olhava com olhos de misericórdia e amor, eu podia ver a alegria que ele sentia em estar ali. Não sabia o que dizer, estava constrangida diante daquele gesto, os olhos marejados, não conseguia pensar em outra coisa, somente que eu estaria morta se ele não tivesse aparecido. O engraçado é que ele não perguntou nada, apenas me olhava com tamanha profundidade que acredito eu, conseguia ver a minha alma.
- Você me conhece?
- Sim. Há muito tempo.
- E porque não veio antes?
- Eu estive aqui todos os dias, mas você estava ocupada batendo em outras portas. Mas hoje eu finalmente te encontrei em casa.
- Mas você não estava em nenhuma das portas que eu bati...
- Eu estava aqui o tempo todo, só lhe restava abrir a porta e me deixar entrar.

[Eis que estou à porta e bato, se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo].
Apocalipse 3.20.

12 de jan. de 2011

Ás avessas...

foi assim que me senti. Era tão estranho me ver exatamente como eu era, e descobrir que eu nunca havia me conhecido antes. Ali parada eu pude observar cada centímetro de mim mesma, até os sentimentos mais reprimidos e esquecidos, aqueles que eu decidi isolar no recôndito da minha alma. Sim, eu os podia ver com tamanha clareza e nitidez, era como se os visse aumentados no microscópio. Eu não desejava rever toda aquela bagagem novamente, não era á toa que havia sufocado aqueles sentimentos durante anos, escondido as lembranças, ignorado às tentativas e chances de mudança. Embora eu soubesse que precisava urgentemente de uma transformação eu ignorava todo e qualquer pensamento á respeito disso. Contudo eu não podia mais adiar aquele momento, o retroceder não tinha mais força em mim, tampouco o estagnar. Agora era diferente. Embora aquele rever e reviver cada momento do meu passado causasse em mim uma nostalgia, aquela foi  a última vez que passeei por ali com o peso nas costas, eu deixei o fardo lá e dessa vez foi para sempre! Eu parti sem olhar para trás, com um sorriso de alívio no rosto, eu decidi finalmente viver a nova vida que me propuseram.

minha essência revelada_a revelação em minha essência

Eu não preciso dos palcos, nem da fama de nomes, tão pouco das recompensas. Eu quero brilhar na escuridão e continuar sendo a mesma quando as cortinas se fecharem. Fazer o que é certo mesmo sem esperar nada em troca, ainda que isso custe a morte do meu egoísmo ou o anonimato. Que sem conhecer ao menos meu nome possam dizer: ela é diferente. Para longe da ética e do moralismo desejo viver em santidade, longe dos rótulos e dos julgamentos precipitados, eu quero amar e me doar, perder, porém ganhar. Para além da religião e das doutrinas desejo entoar um cântico ao meu Deus, que subirá até o céu e fará os anjos dançarem. Irei sorrir nos vales e dançar nos desertos. Não quero ser reconhecida por nada além do que sou: cristã.  

27 de dez. de 2010

O Senhor dos vasos

Definitivamente ele era um oleiro como nenhum outro, conhecido por sua habilidade em transformar vasos quebrados e imperfeitos nos mais belos e inigualáveis. Não havia outro como ele, ele era único. Até ele se achegavam todos os tipos de vasos, os mais diversos, velhos, novos, marcados pelo tempo, defeituosos, alguns com pequenos arranhões, já outros com perda total. Contudo nada era impossível pra ele, por mais duro que fosse o vaso ele conseguia moldá-lo e fazer um vaso novo. Cada imperfeição por mais escondida que estivesse não escapava ao olhar observador daquele singular oleiro. Os vasos que passavam por suas mãos se tornavam irreconhecíveis, não era á toa que os desfazia e refazia conforme a sua vontade. Nenhum vaso era imperfeito demais para fazê-lo desistir. Os vasos abandonados também eram sua especialidade, tinha um apreço enorme por estes. Tirava o barro daqui, preenchia ali e depois os chamava de seus. O mais surpreendente é que após adquiri-los este oleiro não se desfazia de nenhum dos seus vasos, nenhum preço os compraria. Aqueles vasos outrora vazios, sem água, sem flores, são agora de extrema utilidade na casa do oleiro e para o oleiro. Ele mal podia esperar pra terminar cada vaso, embora tivesse a paciência que cada um necessitasse, desejava ardentemente que todos ficassem restaurados outra vez. Depois de todo o processo na olaria, o oleiro fazia um diferente acabamento em seus vasos, ele os enchia com óleo de maneira que até transbordasse. A partir daquele momento qualquer pessoa que olhasse, ainda que de relance, saberia que eles pertenciam ao Senhor dos vasos. Não era de se admirar, pois conforme o tempo passava os vasos se tornavam cada vez mais semelhantes ao seu dono.  

[Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel]. 
Jeremias 18.6b.